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Módulo I

Pobreza e cidadania

O vídeo Severinas, exibido na abertura do módulo, confronta-nos com uma realidade que representa o duro cotidiano de milhões de brasileiras e brasileiros. Note que a pobreza extrema marca a vida dessas pessoas não somente do ponto de vista material, mas também sua interioridade, afetando sua autonomia moral e a visão de si mesmas. Ao mesmo tempo, o vídeo aponta para uma fenda que está se abrindo entre as gerações: as mais jovens não se resignam a viver na miséria como tiveram que fazer seus pais. Querem, efetivamente, mais da vida e consideram a educação o instrumento principal para sair do círculo vicioso representado pela pobreza e pela falta de instrução.

Convém pontuar que a pobreza leva à falta de instrução, uma vez que as crianças são obrigadas a deixar a escola para trabalhar e ajudar a família, enquanto a falta de instrução perpetua a pobreza, pois, sem instrução e qualificação, não há como entrar no mundo do trabalho e sair dessa condição. A exclusão econômica resulta, por sua vez, em exclusão social e política, visto que os(as) pobres passam a viver à margem da sociedade, com pouca capacidade de se organizarem para fazer com que suas vozes sejam ouvidas. 

Figura produzida pela Equipe de Criação e Desenvolvimento a partir de fotografia
de Cícero Omena (2014) e texto dos autores.

O presente módulo pretende não só analisar as relações entre pobreza e cidadania, mas também oferecer uma imagem da pobreza mais complexa e multifacetada do que aquela que normalmente as pessoas de outras classes tendem a formar. Ademais, apresentaremos algumas considerações mais teóricas sobre a relação entre dinheiro, processos de autonomia e de capacitação moral, bem como sobre a questão da opressão de gênero. Ao longo do texto, também pretendemos desconstruir alguns dos preconceitos mais comuns sobre os(as) pobres e suas vidas.

Para escrever este módulo, baseamo-nos, em parte, em uma pesquisa empírica acerca da pobreza que realizamos, ao longo de cinco anos, em várias regiões do Brasil – Vale do Jequitinhonha-MG, sertão e litoral de Alagoas, interior do Piauí e do Maranhão, periferias de São Luís-MA e do Recife-PE –, cujos resultados são apresentados no livro Vozes do Bolsa Família (LEÃO REGO; PINZANI, 2013).

Registramos, ainda, que o presente texto representa uma reelaboração parcial das ideias apresentadas no referido livro. Em particular, reelaboramos a maneira de estudar e catalogar as diferentes manifestações da pobreza e retomamos o texto de algumas entrevistas.