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Violência simbólica
 

O conceito de violência simbólica foi elaborado por Pierre Bourdieu, sociólogo francês, para descrever o processo em que se perpetuam e se impõem determinados valores culturais. Na medida em que seus efeitos tendem a ser mais psicológicos, a violência simbólica se diferencia da violência física, apesar de poder se expressar, em última instância, sob esta forma.

Bourdieu, juntamente com Jean-Claude Passeron, em A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino (1990), parte do pressuposto de que, ainda que por vezes pareçam universais, os sistemas simbólicos (a cultura), compartilhados por um dado grupo social, são arbitrários, uma vez que variam de tempo para tempo e de sociedade para sociedade. Ao ser colocada em prática, a violência simbólica legitima a cultura dominante, que é imposta e acaba sendo naturalizada. Ao chegarem nesse último estágio, os indivíduos dominados não conseguem mais responder ou se opor com força suficiente; muitas vezes, sequer vendo a si mesmos como vítimas, sentindo que sua condição é algo impossível de ser evitado.

Um exemplo de como isso se dá na Escola é quando estudantes de determinadas regiões ou em condições socioculturais marginalizadas são discriminados por falarem de uma forma diferente daquela que é definida pela gramática prescritiva como sendo “a forma correta” de expressão da língua. Essa discriminação, feita inclusive por parte dos(as) professores(as) e demais funcionários(as), difunde o que se entende como preconceito linguístico, de forma que a escola passa a ser um local violento e extremamente desagradável para esses(as) estudantes, que continuam a frequentá-la de cabeça baixa ou a abandonam, acreditando na imposição de que a sua expressão linguística e, consequentemente, sua cultura, é naturalmente inferior. Sabemos, todavia, que as línguas variam ao longo do tempo e não são homogêneas; inclusive, a expressão entendida como a “correta” passa por essas modificações, ou seja, não há nada que garanta esse status de uma língua como a única correta, a não ser a convenção e a arbitrariedade.


Além do preconceito linguístico, podemos identificar diversos outros casos de violência simbólica que são amplamente perpetuados em nossa sociedade. Os vídeos Blue Eyed, Love is all you need e Majorité Oprimée são bastante ilustrativos disso.


Blue eyed
 (1996)

O que acontece quando a cor dos olhos se torna um critério para discriminação social? Num esforço por fazer com que representantes das “maiorias” experimentem, na própria pele, as violências silenciosas que as “minorias” sofrem em seu cotidiano, a socióloga estadunidense Jane Elliot administra um experimento psicossociológico em que os(as) voluntários(as) de olhos azuis são segregados(as) pelos(as) voluntários(as) de olhos castanhos. Apesar de não durar mais do que algumas horas, as consequências do experimento logo se evidenciam.

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Love is all you need?
(2011)

O curta-metragem Love is all you need ilustra a realidade de uma garota que é heterossexual em uma sociedade em que, inversamente, ser homossexual é ser normal. Nesse contexto, várias situações que a protagonista enfrenta nos fazem refletir sobre os valores que são impostos e ditam os padrões de comportamento e de orientação sexual no mundo contemporâneo. O curta focaliza, ainda, como essas determinações produzem uma violência cujas consequências são trágicas.

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Majorité Opprimée
 (2010)

No curta-metragem francês, a questão da repressão sobre as mulheres é problematizada por meio da construção de papéis que se mostram invertidos: um homem, protagonista da história, sofre, por parte de mulheres, as mais variadas violências, simplesmente por ser homem; ou seja, por não ocupar, nesse caso, o lugar de privilégio do gênero feminino, que é dominante. Assim, com esse vídeo, procura-se desnaturalizar a existência de comportamentos que são perpetuados e entendidos como normais, apesar de serem extremamente violentos.

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