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Civilização e educação?

Tio Sam (para sua nova turma de Civilização): — Agora, crianças, vocês têm de aprender essas lições, querendo ou não! Mas olhem a turma à frente de vocês, e lembrem-se de que, em pouco tempo, vocês vão se sentir agradecidos por estarem aqui, assim como eles estão. Ilustração de Louis Dalrymple (1899) para a Revista Puck, nos Estados Unidos. 

A questão da educação como um processo civilizador, que pressupõe uma incivilidade dos(as) educandos(as), também pode ser observada no documentário Escolarizando o mundo - o último fardo

do homem branco (2011). Ele trata de demonstrar como a concepção de educação escolar que perpassou os séculos está associada à ideia de superioridade cultural por parte do ocidente.

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Trecho do filme Escolarizando o Mundo: o último fardo do homem branco 

 

 

 

Durante o período de colonização, a escolarização serviu à garantia de dominação da população branca e, nos tempos atuais, ainda é predominantemente sinônimo da homogeneização das culturas, com o discurso da globalização e da erradicação da pobreza disfarçando a intenção de educação a serviço da manutenção do sistema econômico. Nesse contexto, o que de mais perturbador esse documentário nos traz é a consciência de que a escolarização nesses moldes tem contribuído para o extermínio das diversidades culturais e para a produção e o agravamento das desigualdades sociais. 

Podemos ver parte dessa discussão no trecho do vídeo em que se colocam algumas das questões implicadas no processo de universalização da educação. O discurso da escolarização faz crer na possibilidade de uma "vida melhor” que se pauta no sucesso material, em um modelo baseado na lógica econômica consumista da vida moderna.

Por meio de depoimentos de profissionais envolvidos(as) com a discussão, o vídeo trata do processo de adoção do modo de vida e da cultura urbana e de consumo, considerada a mais desenvolvida e valorizada em relação às culturas tradicionais. Nesse contexto, “educação’’ significa a desvalorização dos próprios conhecimentos em detrimento desse conhecimento dominante, o que colabora para elevar a desigualdade social e eliminar a diversidade cultural. 

O que a realidade nos mostra, contudo, é que os indivíduos que resolvem seguir essa escolarização, com a promessa de uma melhora de vida, em sua maioria não conseguem concretizar o sonho que se alimentou com esse discurso, tendo de seguir uma vida de subempregos, perdendo todo ou quase todo o contato com sua cultura local, em troca dessa ‘’vida moderna’’. É um discurso de dominação cultural tão arraigado que, muitas vezes, os próprios sujeitos de populações não urbanas entendem-se como ‘’não educados’’, como desprovidos de conhecimentos relevantes.